Domingo, 5 de setembro de 2021, 22h00. Uma brisa quente de verão corre entre as janelas convidando a aproveitar os últimos minutos das férias de verão. Maria João, CEO de uma prestigiada multinacional, decidiu aproveitar a tranquilidade da noite para preparar cada peça que, na manhã seguinte, utilizará para regressar ao trabalho.
Os longos dias de descanso no campo estão marcados na pele: a cor dourada das tardes de piscina confere-lhe uma energia sem igual. O tempo no Alentejo corria devagar; as refeições eram longas e em família e o calor tórrido convidava a peças leves e frescas que a ajudavam a desligar do ritmo alucinante do dia-a-dia.
Os vestidos elegantes e os saltos altos deram lugar a calções e tops frescos; as túnicas com padrões arrojados fizeram sucesso entre familiares e amigos. Afinal, a Maria João sempre foi admirada pelo seu bom gosto e elegância. Os brincos e colares intemporais deram lugar a peças étnicas artesanais; os colares e pulseiras de miçangas feitos à mão, diariamente, pela benjamim da família, Isabel, derreteram o coração de mãe e foram presença assídua durante as férias.
De repente, um calafrio de incerteza domina-a. Depois de vários dias em que o vestuário não foi “um tema”, eis que o regresso ao trabalho repesca a tão temida questão: “O que vestir amanhã?”
Indecisa, partilha o dilema com o marido, diretor de marketing de uma empresa gazela para a ajudar nessa missão.
“Maria João: só na tua empresa é que o vestuário é uma questão. Nós não vivemos esse dilema. A competência mede-se pelo vestuário?”
Inconformada com a resposta, deixa-se levar pela brisa noturna e, na sua poltrona de eleição, reflete sobre o assunto.
“Se tenho um cargo de responsabilidade, a minha imagem não deverá refletir seriedade, confiança, credibilidade e profissionalismo? Não serei a imagem da minha organização? Se vestir é comunicar, o traje adequado não funcionará como ferramenta de empoderamento emocional e de comunicação? Não será parte da minha marca pessoal e profissional?”
O traje adequado para cada ocasião funciona como uma hábil ferramenta de empoderamento que nos permite estar, em cada ocasião, com segurança e tranquilidade. O traje adequado elimina uma “etapa extra” desnecessária: a necessidade de demonstrar o quão competentes, credíveis e profissionais somos e que o nosso profissionalismo não corresponde, afinal, ao traje e imagem que apresentamos.
O traje profissional deve, por isso, estar alinhado com o grau de seriedade que cada função implica. Vestir é comunicar; a linguagem não verbal é poderosíssima e o seu poder jamais deverá ser subestimado! Se quer ser levada “a sério” no contexto profissional, a sua imagem deve refletir a seriedade com que pretende ser considerada. O foco deve permanecer nas suas excelentes competências técnicas, na excelente profissional que é e o quão valiosa é para a sua organização; colocar o foco nos seus atributos físicos – ou num estilo desalinhado com a sua organização – será um caminho que, provavelmente, não a diferenciará positivamente no âmbito profissional.
O código de vestuário (o famoso “dress code”) tem um papel fundamental no que desejamos comunicar: adequar a imagem de cada colaborador à responsabilidade que o seu cargo implica e ao contexto da organização. Não é, nem deve ser encarado, como vilão castrador da identidade pessoal de cada um. Pelo contrário! É libertador! A certeza e segurança que o dress code nos confere – sabendo que a nossa imagem está de acordo com a ocasião – permite que nos foquemos no mais importante: construir relações profissionais sólidas e duradouras com clientes e colaboradores. A incerteza de saber o que vestir, gerada pela ausência de um código de vestuário, criaria uma nuvem de incerteza e de insegurança não permitindo manter o foco na construção de relações humanas sólidas e duradouras.
A personalidade de cada colaborador não tem, contudo, de ser aniquilada. O nosso estilo pessoal pode – e deve! – permanecer. O segredo está em dominar a arte de adequar o vestuário ao ambiente profissional em que se insere. Se o público masculino não tem tantas opções, nós, mulheres, temos uma panóplia de peças ao nosso dispor. Contudo, lembre-se da máxima: “tudo posso mas nem tudo me convém”. Equilíbrio é a chave!
Fruto dos tempos modernos, e por influência de várias startups tecnológicas de Silicon Valley, o traje informal tem sido adotado por muitas empresas multinacionais aligeirando o traje formal que, alegadamente, impediria os profissionais de prestar um trabalho de excelência. “A gravata pode ficar presa no teclado e ser um entrave à liberdade de movimentos” – alegavam os colaboradores do mundo tecnológico.
Casual, smart casual, business casual, business suite, informal são termos que, rapidamente, se integraram na gíria empresarial.
Contudo, o que significa, na prática, o vestuário “casual”? Onde está a linha que separa o que posso utilizar no ambiente profissional – sentindo-me confiante, segura e competente – e o que deve estar reservado para ocasiões informais?
A dificuldade de destrinça de cada conceito reside, desde logo, num “pequeno pormenor” de tradução. Tratando-se de conceitos estrangeiros, será que a menção “informal”, em inglês, é “informal” em português? Este é um erro de tradução comum que, de imediato, potencia situações altamente desconfortáveis ao levar muitos executivos a apresentar-se com o traje indevido … tudo por causa de um erro de tradução! Relembre os seus amigos e colaboradores do sexo masculino que a referência ao traje “informal dinner” em inglês jamais deverá ser traduzido por “jantar informal” sob pena de criar uma ocasião “inesquecível”. “Informal dinner” indica, tão só, que o traje adequado para aquela ocasião é fato escuro (dark suit), por contraponto ao traje adequado para um “formal dinner” (dinner jacket/ smoking).
O primeiro aspecto que deve estar claro é o de que o conceito inglês “informal” não corresponde ao nosso conceito informal. Informal, em português, encontra a sua correspondência em inglês no conceito “casual”.
Se casual, em inglês, corresponde ao nosso traje informal, qual o grau de informalidade permitido neste três conceitos: business casual, smart casual e casual?
O traje “business casual” tem um pendor menos formal comparativamente ao tradicional “business formal”. É uma espécie de traje híbrido: um equilíbrio entre vestuário formal e casual. Contrariamente ao traje “business formal”, é-lhe permitido utilizar peças menos conservadoras e rígidas podendo conferir um toque de personalidade ao seu look. Contudo, o seu propósito mantém-se: conferir um tom profissional e empresarial. O padrão de uma imagem e de uma impressão altamente profissional e negocial é inquestionável. Muitas vezes, em congressos ou eventos profissionais pode vir mencionado como “business suit” evitando confusões e incertezas.
Saias, blusas, meias e sapatos fechados são peças fundamentais. Em determinadas organizações, poderão ser permitidas sandálias mas, jamais, calçado aberto de cariz desportivo ou com mood “fim-de-semana”.
Os vestidos são uma escolha natural da maioria das executivas. Com uma peça única, facilmente garantem um look adequado e sofisticado permitindo que se mantenham impecáveis e irrepreensíveis ao longo do dia. Não há lugar a preocupações de conjugações e funcionam, lindamente, com blazers ou boleros complementando o look e mantendo a temperatura corporal em ambientes frescos.
As regras para a cor, comprimento, decote e ajuste do vestido a utilizar em ocasiões formais têm, também aqui, lugar. Cores neutras – preto, cinzento, azul escuro, castanho, bege e branco – são sempre seguras. Para garantir o equilíbrio no seu look, escolha peças neutras e, de seguida, confira um toque pessoal adicionando um detalhe de cor. Uma écharpe de seda com cor ou padrão elegante é, seguramente, uma ótima opção. Um vestido marcante – seja pela cor, design ou padrão – ser-lhe-á permitido utilizar uma única vez pois facilmente será uma peça memorável. O comprimento do vestido (ou da saia) deve terminar acima do joelho; certifique-se que é adequado quando se senta e quando se levanta permitindo-lhe estar e caminhar, com segurança e confiança, em qualquer ocasião (inclusivamente ao subir e descer escadas); vestidos curtos, longos ou assimétricos deverão ser reservados para outras núpcias; decotes em barco, decotes redondos ou pequenos decotes em v são adequados. Reserve decotes proeminentes para outras ocasiões. A forma do seu corpo será, como sempre, o guia para escolher as peças que melhor a favorecem.
E não se esqueça… se já sabe que deve ter cuidado com a sua aparência para “ser levada a sério”, não se esqueça de ter, também, cuidado com as transparências! Lembre-se que a única pessoa que deve conhecer a nossa roupa interior é cada uma de nós!
Se a sua organização adota um traje “smart casual” lembre-se que não deixa de ser um traje a utilizar no seio profissional. O traje “smart casual” é, no fundo, uma versão “polida” do traje “casual”, isto é, o traje informal adequado para utilizar em família ou num fim-de-semana entre amigos.
O traje “smart casual” é um traje informal que permite maior flexibilidade que o anterior (“business casual”). Peças com bom corte e aspecto profissional, conjugadas com peças informais (como polos, calças chino, dockers ou, inclusivamente, calças de ganga de corte clássico, sem padrões e sem estarem rasgadas ou desbotadas) são permitidos. Macacões, saias rodadas e fluidas são permitidas; evite, contudo, saias com corte formal pois conferem um ar demasiado formal. Vestidos longos são, também, de evitar pois rapidamente poderão transformar o seu look demasiado casual (relembrando as tardes quentes de verão na praia) ou num look demasiado formal. O segredo está em equilibrar peças casuais (por exemplo, calças de ganga) com uma peça menos informal (uma blusa com blazer). Sapatos Oxford, sabrinas, mocassins são perfeitos para um look smart casual. Saltos cunha são, também, aceites. Se não prescinde de saltos altos, lembre-se de equilibrar o seu look com uma peça casual: conjugando, por exemplo, com jeans para manter o equilíbrio do look smart casual. A regra de ouro “calçado imaculado”- independentemente do grau de formalismo – é para respeitar em toda e qualquer ocasião. Não obstante o seu pendor aligeirado, o traje smart casual é, também, um traje a utilizar no ambiente profissional devendo espelhar a sua posição e responsabilidade no seio corporativo. Mini-saias, calções, t-shirts ou peças com logotipos salientes ou com frases, lemas ou padrões controversos,decotes proeminentes e calçado ultra-casual ou desportivo (incluindo “ténis” fashion) continuam a estar vedados.
Por fim, o que vestir quando o dress code da organização é “casual” ou na aclamada “casual friday”?
O traje “casual” – ou, em português, informal – corresponde a roupas confortáveis para utilizar no nosso tempo livre, fora do ambiente de trabalho, em família ou entre amigos.
Este conceito “silliconiano” tem sido adotado por várias multinacionais, em especial para a tão aclamada “casual friday”, permitindo que os colaboradores se possam apresentar com um traje aligeirado. Se espera, contudo, que um dia “casual” funcione como uma porta aberta para calções, ténis e t-shirts, temo que a vá desiludir… Lembra-se da máxima “à vontade não é à vontadinha”? Tem, também aqui, aplicabilidade.
Pode utilizar sandálias, sabrinas e saltos rasos; calças de ganga – novamente com corte clássico, sem estarem rasgadas nem com aspecto pouco profissional – blusas ou partes superiores confortáveis. Contudo, não se esqueça que continua a estar no ambiente profissional em que a sua imagem é passaporte para a credibilidade e profissionalismo que pretende transmitir. T-shirts, calções e minissaias, tops curtos ou cai-cai, umbigo à mostra, decotes proeminentes e peças em que a “transparência” é o seu ponto forte continuam a estar vedadas.
Segura da imagem de seriedade, profissionalismo e competência que pretende continuar a transmitir, Maria João consulta a agenda do dia seguinte para escolher as peças mais adequadas para regressar ao trabalho. O primeiro dia será dedicado a delinear novas estratégias com as várias equipas. O almoço será entre amigas – um habitué no início de cada semana.
De repente, tudo fazia, novamente, sentido na sua mente: um vestido pastel e brincos intemporais voltariam a marcar presença. E, claro, para conferir um toque pessoal, utilizará “o anel” com que o marido a surpreendeu num dia especial. Tal como a avó lhe ensinou, não abre mão de uma “peça especial” que lhe garante o efeito “wow” e a empodera emocionalmente, especialmente nos dias em que o closet repleto de roupa parece não ter nada que a satisfaça.
De vestido fluido, longo e marcante, complementado pelo colar de miçangas que Isabel lhe oferecera nessa manhã, senta-se, novamente, no sofá e questiona o marido: “Se amanhã me apresentasse com este vestido e com este colar, qual seria o grau de seriedade e profissionalismo que me seria possível transmitir? Porque não basta ser… temos de transparecer profissionalismo em cada pormenor. Ou será o cuidado com a aparência démodé?”
Artigo publicado, originalmente, na Executiva aqui.