Cartões de visita: um acessório antiquado?

Por: Joana Andrade Nunes
04/09/2022

A “troca de galhardetes” protagonizada pelos cartões de visita continua a ser um momento alto na vida executiva. Não é, como tal, de admirar que uma das primeiras preocupações do departamento de marketing de cada organização é (ou deveria ser…)  agilizar a produção de cartões de visita para os novos colaboradores, assim como a atualização dos cartões de visita dos colaboradores, garantindo que espelham as novas funções abraçadas.

Atualmente vivenciamos, contudo, uma nova realidade: os cartões de visita em formato digital — idolatrados por uns, odiados por outros — vieram para ficar e, paulatinamente, vão destronando o lugar cimeiro ocupado pelos tradicionais cartões de visita. 

Se, como eu, é fã da era digital, acredito que se tem questionado se continuará a “valer a pena” imprimir uma nova “leva” dos cartões de visita ou se, pelo contrário, um cartão de visita em formato digital cumpre o propósito. 

A seleção do papel, a escolha cuidada da paleta de cores, a decisão de aplicar/não relevo e a plastificação a considerar no tradicional cartão de visita são elementos que dão vida à nossa personalidade. Tal contribui para que, em pleno século XXI, os cartões de visita tradicionais continuem a ser um acessório de charme inegável que, em segundos, permite reforçar a “fibra” de cada profissional. 

Os cartões de visita, enquanto extensão da nossa marca profissional, são um acessório poderosíssimo que permite apresentar o “eu profissional” ao nosso interlocutor ou, analisando a outra face da moeda, permite, de imediato, reconhecer o nosso interlocutor: quem é, onde trabalha, o que faz e o “tom de excelência” pelo qual se pauta.

Se, atualmente, a linguagem secreta que, outrora, os cartões de visita demonstravam deixou de fazer sentido — o código secreto de cada dobra não é, atualmente, reconhecido pela maioria dos nossos interlocutores — os cartões de visita continuam a ser particularmente úteis aquando do envio de documentos de cariz profissional ou de um “miminho” para surpreender o seu interlocutor. 

Diria que há, contudo, uma dobra que continua a ser reconhecida — e, claro, executada  — por muitos profissionais no século XXI. 

Para marcar que esteve presente num evento fúnebre, o cartão de visita continua a ser deixado dobrado ao meio, garantindo que não será utilizado inapropriadamente por terceiros. Como referi, os cartões de visita são uma extensão da nossa marca profissional e a inventividade dos outros consegue sempre surpreender a realidade… A dobra do cartão de visita nestas circunstâncias é altamente recomendável dado que o mesmo não é entregue em mãos e se destina a garantir que estivemos presentes naquele momento. 

Salvo a exceção mencionada, entregar um cartão de visita dobrado, rasurado ou com as pontas sujas transmite uma imagem profissional descuidada, desleixada, causando uma péssima impressão. 

A troca de cartões continua, assim, a obedecer, religiosamente, a uma série de boas práticas para que a imagem de excelência profissional seja transmitida e, jamais, cause desconforto ao interlocutor. 

Como já referi, o cartão deve ser entregue imaculado: sem dobras nem rasuras. Para que tal seja garantido, aconselho a todos os executivos de excelência que me concedem o seu tempo ao ler este artigo, que abandonem o “péssimo” hábito de guardar os mesmos no bolso das calças ou do casaco; às executivas fãs das tão em voga “tote bags”, aconselho que deixem de protagonizar o cenário clássico de “procurar” os cartões de visita perdidos no fundo da carteira o que, além de causar um impacto pouco profissional, contribuiu para a danificação dos cartões. Para evitar estes cenários, invista num porta-cartões de visita (encontra várias opções em pele ou metal, com personalização ou sem personalização) — ou dê utilidade aos que lhe foram oferecidos —  garantindo que os cartões estão imaculados, organizados e disponíveis a entregar. Mais uma vez reforço: o cartão de visita — assim como o porta-cartões — são uma extensão da nossa marca pessoal e, como tal, devem estar alinhados com a mesma.  Por sua vez, certifique-se que o cartão está devidamente atualizado: pior do que não ter um cartão para entregar, é entregar um cartão desatualizado…

Se há culturas que entregam, sem mais, os cartões de visita (os americanos são um ótimo exemplo da informalidade com que tratam este ritual), outras valorizam a simbologia que envolve o ritual da troca de cartões, contribuindo para o início de uma relação profissional frutífera ou, pelo contrário, aniquilando a mesma à partida.

Como tal, aconselho a que saiba ler o tom do momento e pedir licença para entregar o seu cartão de visita apenas quando o interlocutor demonstrar ter interesse no seu percurso profissional ou na sua empresa. Entregar, sem mais, o seu cartão poderá ter o efeito exatamente oposto ao pretendido.

Por outro lado, não se esqueça que o cartão deverá ser entregue com a informação virada para cima: o seu nome, cargo e organização a que pertence são a informação fulcral que pretende partilhar.

Quando lhe entregarem um cartão de visita, dedique uns segundos a analisar o mesmo evitando guardá-lo de imediato — uma atitude clássica e de mau tom que continua a ser protagonizada por muitos.

Para ganhar pontos “extra” teça um comentário simpático e empático sobre o seu interlocutor ou organização a que pertence. Desta forma, não só garante que leu a informação que lhe foi transmitida como esteve atento à mesma e tem interesse no que foi partilhado. 

Sei que é um executivo de excelência; contudo, acredito que também já vivenciou o clássico momento de se aperceber que acabou de chegar a um evento e não tem os cartões de visita consigo nem tem oportunidade de os ir buscar a casa, ao escritório ou ao carro (aquele momento que já nos “salvou” em diversas ocasiões).

Peço-lhe, encarecidamente: não caia na tenebrosa tentação de escrever os seus dados no cartão de visita de outra pessoa (ainda que o outro o sugira por “simpatia”…). Tal equivale a violar a identidade do outro, sendo verdadeiramente deselegante,  inapropriado e, para muitos, ofensivo.

É, aqui, que entra em cena o “brilhante” cartão de visita digital que nos salvará do constrangimento de não termos um cartão de visita para trocar.

Apesar de continuar a não prescindir do charme inigualável que os cartões de visita físicos continuam a oferecer, confesso que o meu cartão de visita digital já me salvou em inúmeras ocasiões. Saiba que pode descarregar o seu através da sua página de LinkedIn (só funciona em ambiente mobile) e o QR Code que lhe será atribuído contém todas as informações precisas e atualizadas que, seguramente, pretenderá partilhar. 

Se tiver o cuidado de ter a sua página de LinkedIn atualizada, esta ferramenta revela-se num precioso aliado dado que, em segundos, permite ter toda a informação profissional atualizada — o que nem sempre é possível, de forma imediata, com a “troca de cadeiras”.

Por fim, saiba que continua a ser muito simpático e apreciado o envio de um cartão de visita tradicional a acompanhar um ramo de flores, uns chocolates, um livro ou os documentos que ficou de enviar à contraparte. 

Neste caso, deverá escrever uma breve mensagem respeitando, sempre, as boas práticas nesta matéria. 

Dependendo do grau de proximidade que paute a sua relação com o interlocutor, poderá apenas escrever uma frase de despedida, antes do nome (Com os melhores cumprimentos,Com estima e consideração; Com um forte abraço) riscando o apelido sempre que o grau de proximidade o justifique. Em alternativa, poderá, tão só e sempre na primeira pessoa, escrever  “Envio / Agradeço / Felicito”. 

Por fim, se pretender escrever uma mensagem personalizada, deverá utilizar o verso do cartão. Nesse caso, poderá escrever uma breve mensagem:

Estimado Dr. Lima Lopes, 

Tomo a liberdade de lhe enviar o último relatório de contas para que possa partilhar a sua análise brevemente.  

Com os meus melhores cumprimentos,  

terminando com a sua assinatura.   

Reforço que este gesto de generosidade e cuidado profissional, ainda que em vias de extinção, continua a contribuir para sedimentar a imagem de excelência profissional; demonstra ao interlocutor que dedicou uns minutos do seu tempo a escrever uma breve mensagem e a enviar um documento ou um bonito ramo de flores. Estes pequenos gestos têm um reflexo exponencial ajudando-o a palmilhar o caminho da excelência profissional — algo que o cartão em formato digital dificilmente poderá protagonizar.

Artigo publicado, originalmente, na Executiva aqui.

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