“London bridge is down”: Isabel II encerra a história do século XX

Por: Joana Andrade Nunes
09/09/2022

“London bridge is down”. “A ponte de Londres caiu”.

Oito de setembro de 2022. A BBC interrompe a emissão e, ao som da melodia “God Save the Queen”, projecta a imagem de Sua Majestade com fundo negro.  A Rainha morreu; longa vida ao Rei. A máxima Rex nunquam moritur tem lugar e, como tal, ao final de 70 anos, voltar a ser entoado ”God Save the King”.

O plano D+10, preparado desde a década de 60 no século passado e limado anualmente, é colocado em ação. Setenta anos de reinado que espelham o verdadeiro sentido de missão até ao fim — a indigitação da Primeira-Ministra, 2 dias antes da sua morte assim o demonstra. Por todo o mundo, são transmitidas notas de pesar e votos de um reinado feliz ao Rei Carlos III.

Estes dias têm sido marcados por inúmeras cerimónias milimetricamente desenhadas e treinadas, culminando com o funeral de Estado (State Funeral), organizado pelo Earl Marshall, segunda-feira, dia 19 de setembro de 2022, pelas 11h00, na icónica Westminster Abbey. 

O chamado Lying  in State  (repousar em cerimónia) tem, também, lugar: a urna de Isabel II poderá ser velada e, quem desejar, pode prestar,presencialmente, uma última homenagem à Rainha. Em Westminster, permanece 4 dias, em câmara ardente, esperando a última homenagem de milhares de súditos.

Tal é apenas concedido, ao Rei, Rainha, Rei/Rainha consorte, assim como a um antigo Primeiro Ministro. A Rainha Mãe, em 2022, foi a última monarca a estar em câmara ardente, permitindo uma última homenagem pelos seus submetidos. Tal sucedeu, também, com Winston Churchill, em 1965.

A coroação de Carlos III não tem, ainda, data marcada, mas tal não coloca em causa a sua posição, pois a sua legitimidade como soberano não depende de tal solenidade — lembremo-nos de Eduardo VIII que nunca chegou a ser coroado. 

As bandeiras são hasteadas aa meia-haste como sinal de luto e respeito por Isabel II — excepção feita para o estandarte real dado que o trono jamais poderá estar vazio sendo sempre ocupado pelo monarca reinante. A excepção da excepção teve, contudo, lugar a 10 de setembro, no dia do Conselho de Ascensão (Ascension Council)  com a proclamação formal de Carlos III como Rei.

Dia 19 de setembro será feriado nacional — assim decretou o monarca Carlos III (algo que, em Portugal, apenas poderá ser decretado pelo Governo, assim como a duração e o âmbito do luto nacional aquando da morte do Presidente da República ou de um antigo Presidente da República).

O protocolo tem tido, nestes dias, o papel crucial de transformar o caos em ordem, a incerteza em certeza organizando entidades oficiais, sequências temporais e símbolos para que os 70 anos de reinado de Isabel II sejam devidamente homenageados. 

Contrariamente ao que sucede com os Presidentes da República, Isabel II foi, durante 70 anos, a referência para o seu povo; transformou-se num mito (uma verdadeira “influencer”) confundindo-se com a própria instituição. Ao protocolo cabe, com toda a pompa e circunstância do cerimonial, garantir que será devidamente homenageada dando vida a cerimónias milimetricamente delineadas, em que o compasso rigoroso de cada passo constroi um espetáculo que convoca milhões de espectadores. O povo britânico — e não só! — não resiste a uma história de Reis, Rainhas, príncipes e princesas; ficam deslumbrados com a encenação que envolve cada ato. E, como tal, as sábias palavras da Rainha Mãe têm, também agora, aplicabilidade: “Quanto da nossa vida passamos a representar”.

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