Novos tempos, novas regras para abotoar o casaco — ou, simplesmente, uma “gafe” pura e dura?

Por: Joana Andrade Nunes
05/05/2023

Em pé, abotoar (corretamente) o casaco; antes de nos sentarmos, desabotoar o casaco.” 

Esta é a “regra de ouro” que, até então, passava, imaculada e intocável, de geração em geração. 

Contudo, esta semana, na véspera da coroação do Rei Carlos III, surge uma fotografia oficial que me faz dedicar, novamente, um olhar sobre este tema. 

As regras de etiqueta são o reflexo do entendimento que cada sociedade tem, em cada momento, do comportamento adequado para demonstrar respeito e consideração para com o outro. As regras de etiqueta não são, como tal, universais nem estanques: variam de acordo com o tempo, adaptando-se às exigências de cada época.

Se, até então, parecia ser claro e inquestionável que se deve manter o casaco desabotoado quando sentados — ou, a contrario, manter o casaco abotoado quando sentados não é admissível (salvo casacos assertoados), pois garante um péssimo aspeto ao casaco (ficamos com a sensação que o botão poderá saltar, a qualquer momento), é sinónimo de total desconforto para quem o veste e transparece uma imagem de deselegância — a regra secular é agora, novamente, colocada em causa. 

Há sensivelmente um ano, este tema já tinha sido alvo da minha reflexão (pode reler o artigo aqui).

As regras de etiqueta, em particular relativamente ao traje, visam garantir que estamos na nossa melhor versão — elegantes e confortáveis — e em sintonia com a ocasião que estamos a frequentar. São, por isso, o espelho de um casamento feliz entre a elegância e o respeito (e dignidade) inerentes a cada ocasião.

Um olhar atento, diz-nos que esta “nova versão” — manter o casaco abotoado quando sentados, contrariando uma regra de etiqueta secular — é, cada vez mais, adotada por vários políticos, jornalistas e entidades de elite europeias, que, seguindo o conselho dos seus “consultores de imagem”, optam por desafiar as regras na esperança de ditar uma nova tendência. 

Se acompanha os meus artigos, poderá ver uma imagem do filho mais novo do Rei Carlos III, aqui, que seguiu, exatamente, o mesmo critério: manteve o botão abotoado, quando sentado, num evento oficial, ao pé da avó, a Rainha Isabel II. 

Como a “garra” de advogada jamais me abandonará, não resisto e apresento-lhe a seguinte reflexão: 

Será uma nova tendência? Um novo olhar sobre regras seculares? Será uma flexibilização das regras de vestuário de acordo com as exigências do século XXI? Será desconhecimento, puro e duro, do código de vestuário? (e, em caso afirmativo, relembro-lhe que “o desconhecimento da lei não aproveita a ninguém) Ou será o que muitos têm vindo a sustentar: o espelho da falta de rigor, com um certo toque de desleixo, do que tem sido a postura da classe política do século XXI?

Tal como mencionei no artigo de julho de 2022, muitos sustentam que, ao manterem o casaco abotoado quando sentados, a sua imagem visual fica favorecida, em especial quando estão sob o escrutínio das câmaras. 

Por outro lado, permite que a gravata fique centrada —  não há nada mais desagradável do que ver uma gravata “descomposta” revelada pelo casaco desabotoado e, claro, permitirá “não revelar” o perímetro abdominal pouco tonificado, em particular para quem não tem “tempo” para cuidar do corpo. 

Sustentam também que, quando sentados, o casaco abotoado transparece um tom de formalidade maior, o que, quando se está perante uma audiência considerável, poderá ser uma “bengala” de conforto para enfrentar a plateia com a mesma segurança que teriam se estivessem em pé, com o casaco abotoado.

Por fim, se o casaco for criado exclusivamente para quem o utilizará, exatamente com o propósito de manter o botão abotoado quando sentado, manter-se-á impecável, abotoado, garantindo uma imagem mais profissional e apelativa do que um casaco desabotoado.

Tendo em conta a imagem, até então, impecável do Rei Carlos III, deixo ao seu critério a escolha da solução que for ao encontro aos seus desejos e convicções, resolvendo, de forma brilhante como só o Sherlock Holmes consegue fazer, o mistério que envolve esta fotografia: 

  1. Novos tempos, novas regras: modernização da monarquia no século XXI, com reflexos no código de vestuário que se revela, agora, obsoleto, (tendência preconizada, também pelo Príncipe William que aparece, em inúmeras ocasiões, sem gravata e com uma imagem de informalidade transmitindo uma mensagem de proximidade e modernidade, na esperança de garantir a sobrevivência de um regime monárquico em pleno século XXI);
  2. O Rei Carlos III, não se sentindo confortável com o casaco por abotoar quando sentado, dita/reforça uma nova tendência e, conscientemente, permanece com o casaco abotoado numa posição sentada;
  3. O Rei Carlos III, habituado a utilizar casacos assertoados (os quais permanecem abotoados, mesmo quando sentados), esqueceu-se de desabotoar o casaco (uma “gafe”, pura e dura);
  4. A imagem foi criada por inteligência artificial, não sendo, como tal, real. 

Qual é a sua análise preferida?

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