O bê-á-bá das refeições de negócios: a anfitriã diligente

Por: Joana Andrade Nunes
02/11/2021

No contexto profissional, as refeições de negócios têm tradição secular. Não há visita oficial nem receção de convidados sem banquete; não há negociação — nem processo de recrutamento de especial importância — sem se ter passado, previamente, pelo “teste da mesa”. Os romanos — e outros povos — assim o faziam, transformando a mesa num local riquíssimo para construir e sedimentar relações. 

Sob o mote da partilha da refeição num ambiente mais descontraído, temos oportunidade de semear ou sedimentar parcerias e de conquistar parceiros e colaboradores diferenciados. É a mesa da sedução que, num gesto de elegância e diferenciação, cativa e deslumbra aqueles que a partilham. 

Contudo, à mesa também conquistamos negócios. À mesa, as “hostes” estão mais tranquilas e o dissenso transforma-se, com mais facilidade, em consenso –  em especial aquando da partilha da sobremesa que conforta a alma.

Por fim, a mesa de refeição assume, também, as vestes de “mesa do poder”. Desengane-se se pensa que a partilha de refeição lhe irá proporcionar apenas a construção ou sedimentação de laços profissionais sólidos e duradouros. As refeições profissionais são, também, um teste às nossas competências sociais que, in locu, serão cirurgicamente analisadas. Num ambiente exterior à organização, estamos, naturalmente, mais descontraídos. Deste modo, revelamos com mais facilidade a nossa genuinidade.

Antes de se incompatibilizar com o sommelier ou demonstrar, publicamente, o seu desagrado assim que provou o “bife pastilha-elástica”, lembre-se de tratar o outro como gostaria de ser tratado: aspereza, indelicadeza e arrogância revelarão a sua verdadeira essência.  Quem dominar, com mestria, a arte de saber estar, receber e comunicar, passará o teste da mesa; conquistará colaboradores e clientes de sonho; reforçará laços profissionais e conquistará negócios. 

Como tal, quando assumir o papel de anfitriã, coíba-se de cometer qualquer um dos 7 pecados capitais que lhe vou relembrar: 

  1. Não elaborar a lista de convidados: se pensa que  elaborar a lista de convidados é uma perda de tempo, está equivocada. Se for uma refeição profissional sem cônjuges, tem o trabalho “facilitado”: não há necessidade de convidar um número igual de homens e mulheres.
  2. Não convidar o convidado de honra em primeiro lugar: se a refeição incluir um convidado de honra, não se esqueça que este deverá ser convidado em primeiro lugar. Após confirmação da presença do convidado de honra, deverá efetuar os restantes convites mencionando que a refeição será em honra de “X”.
  3. Não organizar a mesa de refeições: confirmadas as presenças e estabelecida a ordem de precedências, deve ter o cuidado de elaborar o plano de mesa. Há quem diga que é “o detalhe do detalhe”. Para mim, é “o segredo” que lhe permitirá criar um momento memorável! Deverá ter o cuidado de juntar pessoas com interesses comuns e evitar sentar lado a lado pessoas com incompatibilidades conhecidas. Caso existam estrangeiros na mesma mesa, deve garantir que se sentam frente a frente (ou lado a lado) com quem também esteja apto a comunicar no mesmo idioma. Se a refeição incluir jornalistas, evite sentá-los perto de alguém “conhecido” sob pena de potenciar uma situação desconfortável, transformando um dos convidados numa “fonte de informação”. Em eventos até 12 pessoas, não há necessidade de exibir um plano de mesa. Enquanto anfitriã, incumbir-lhe-á indicar o lugar de cada convidado. Evite, contudo, socorrer-se de uma cábula – ainda que discretamente – para indicar o lugar de cada convidado. Se quiser deslumbrar os seus convidados, inclua um cartão de mesa com o nome manuscrito a tinta preta, conferindo um toque de elegância e diferenciação. Por fim, nunca se esqueça da regra de ouro: ainda que não seja supersticiosa, nunca sente 13 pessoas à mesa… não vá “o diabo tecê-las”.
  4. Chegar ao local da refeição depois dos convidados: se o dever de reservar o local de refeição é da anfitriã, o dever de chegar ao local da refeição antes dos convidados para que possa recebê-los e acompanhá-los é também o seu. Chegar antecipadamente é fundamental para que comece o evento com o pé direito. 
  5. Não dar precedência aos convidados na escolha da ementa: nas refeições de maior formalidade, a ementa – e respetiva harmonização – é meticulosamente definida previamente pela anfitriã. Contudo, numa refeição profissional com um grau de formalidade menos acentuado, não existe uma ementa definida. Saiba que é da sua responsabilidade dar precedência aos seus convidados na escolha dos pratos e, em caso de dúvida ou dificuldade na escolha, efetuar sugestões.
  6. Não escolher o vinho: não é conhecedora de vinhos? É abstémia? Não entre em pânico! Peça uma sugestão ao sommelier ou ao empregado de mesa que, seguramente, terá todo o gosto em recomendar o vinho mais adequado para os pratos selecionados. Para tal, aponte, intencionalmente, para um vinho que conste da carta de vinhos e peça ao sommelier uma sugestão que se enquadre naquela refeição. Desta forma, indicar-lhe-á, subtilmente, o seu “nível de preço” e, ainda que tenha uma sugestão diversa, indicar-lhe-á o vinho mais adequado para a refeição, respeitando o nível de preço indicado silenciosamente.
  7. Afinal, quem paga a conta? Quando estamos no papel de “anfitriã” enfrentamos, pontualmente, um desafio extra. Afinal, não deverá ser o “homem com mais idade” a pagar a conta? A resposta é simples: é anfitriã? Então a responsabilidade é sua. Para se certificar que este assunto é uma “não questão” – e que não perturbará o decorrer da refeição – informe o chefe de sala, previamente e de forma discreta, que é a anfitriã para que sejam respeitadas as precedências no decorrer da refeição. Se um convidado do sexo masculino insistir em “pagar a conta”, seja empática e assertiva; indique que tem todo o gosto em ser convidada para uma refeição brevemente; contudo, “hoje” assumirá, com gosto, as responsabilidades que são inerentes a uma anfitriã.

Artigo publicado, originalmente, na Executiva aqui.

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