Os últimos meses apresentaram-nos uma nova realidade profissional e pessoal. Num abrir e fechar de olhos, tudo passou a ser feito em casa — ou tendencialmente a partir de casa.
A mesa da sala – outrora reservada para os jantares de amigos e família — deu lugar aos computadores, tablets e todos os “gadgets” que possamos imaginar.
O local de trabalho entrou, sem permissão, para a nossa sala e nela decidiu instalar-se sem pré-aviso. A casa converteu-se no local de trabalho; a sala de estar transformou-se em sala de reuniões improvisada e, claro, integrando em simultâneo um espaço reivindicado pelos mais novos para as aulas online.
Reuniões online, formações online, seminários online, eventos online, cinema online, teatro online, concertos online inundaram a nossa vida.
Para “espairecer”, os clássicos passeios pelo quarteirão durante a pausa de almoço deram lugar a períodos de navegação longos… novamente à secretária. Das compras de supermercado da semana, ao namorar “aquele vestido lindo de morrer” e “aqueles stilettos para estrear quando for jantar fora”, sem esquecer as subscrições sem fim de newsletters com pouca utilidade, a nossa pegada digital transformou-se num pé gigante em segundos. Aceitamos, sem pensar, as políticas de cookies – acompanhadas, muitas vezes, do apetecível ícone das tradicionais bolachas americanas; “sim aceito” — sem pensar — é prática diária. No final do dia, o rasto digital da internet é assustador: as páginas onde navegamos, o nosso IP, as publicações que comentamos e partilhamos, as aplicações que instalamos, as mensagens nos grupos de WhatsApp que trocamos com familiares, amigos e clientes que de “privadas” pouco têm.
Saber o que comentar, o que partilhar e o que publicar é fundamental para garantir que a nossa pegada digital está em sintonia com o padrão de excelência profissional pelo qual pautamos a nossa vida.
Se a frase clássica “uma vez na internet, para sempre na internet” lhe parece exagerada, lembre-se que há sempre alguém que viu aquele comentário, aquela fotografia comprometedora e que a eternizou num printscreet – e, claro, que facilmente colocará a sua imagem em questão.
Se não tem por hábito pesquisar o seu nome nos motores de busca — o chamado “googlar-se a si mesmo” — aconselho vivamente a que adote esta prática. Talvez descubra que, em segundos, rapidamente consegue descortinar o seu e-mail, nome completo, instituição de ensino que frequentou, número de contacto, contas nas redes sociais, o seu empregador, os últimos comentários no booking ou tripadvisor que “denunciam” o seu fim-de-semana romântico ou a última viagem em família. E, claro, fotografias e vídeos em grande quantidade, partilhadas por si ou por terceiros que a identificaram.
As organizações, por outro lado, têm aprimorado a arte de saber tratar a pegada digital que lhes é apresentada. Delinear o perfil com precisão — para onde viaja, que interesses tem, quais são as suas preferências, que conteúdo técnico-científico partilha, publica e pesquisa — tão útil em processos de recrutamento. Por outro lado, a nossa pegada digital permite que se limem arestas de um público-alvo online cada vez mais refinado: o tão em voga inbound marketing que veio para ficar.
Para que se sinta confortável com a sua pegada digital, apresento-lhe 10 regras de ouro a respeitar:
- pense — mas pense mesmo — em que redes sociais pretende estar e com que propósito;
- reveja/altere as configurações de privacidade para garantir que está a partilhar conteúdo com o espectro de seguidores que pretende;
- não escreva nenhum comentário online que não tenha coragem de proferir presencialmente;
- não publique conteúdos que possam comprometer a sua imagem;
- não publique imagens nem vídeos de outras pessoas;
- certifique-se que as suas publicações profissionais estão de acordo com a política e imagem da sua organização;
- navegue em separadores anónimos;
- apague o histórico regularmente;
- não grave palavras-passe;
- utilize um software para criar e guardar as palavras-passes seguras.
Pergunto-lhe: conhece a sua pegada digital?
A pegada digital diz quem foi, quem é, claro, quem, potencialmente, será.
A internet criará a sua pegada digital de acordo com a informação que, livremente, lhe decidir facultar. Está nas suas mãos saber como se pretende apresentar e, claro, o que pretende partilhar.
Artigo publicado, originalmente, na Executiva aqui.