Perguntas inconvenientes: o que responder quando não pretendemos responder

Por: Joana Andrade Nunes
01/03/2022

O que responder quando somos confrontadas com uma pergunta inconveniente?

Esta é, arrisco a dizer, uma pergunta para EUR 100.000,00! 

Quantas vezes somos confrontadas com “aquela” pergunta inoportuna, muito inconveniente que, em segundos, tem o dom de nos deixar sem saber o que responder? Perguntas que ultrapassam a nossa linha vermelha, que abordam temas da nossa esfera privada revelando, tão só, a falta de sensibilidade e de bom senso de quem as profere. 

Se há quem diga que todas as perguntas são permitidas — estando apenas vedada a forma como são efetuadas — gosto de relembrar aos meus clientes que há, pelo menos, uma excepção. Sempre que a resposta a uma pergunta envolva um número, não deverá ser colocada. 

As clássicas — e inconvenientes — perguntas: 

Quanto ganha? Que tamanho veste? Quanto custou? Quantos anos tem?” 

e, claro, a cereja em cima do bolo…

 “Está diferente… Quanto pesa?” 

são verdadeiros pecados capitais que aniquilam a imagem profissional de quem as profere.  

Não raras vezes, somos confrontadas com uma (ou com várias!) pergunta(s) inconveniente(s) criando uma situação verdadeiramente desconfortável e um dilema “quase” existencial: “E agora, o que responder?

Apresento-lhe, de seguida, três opções gradativas para responder, de forma elegante e assertiva, demonstrando ao interlocutor que passou a sua linha vermelha. E, claro, com um ponto extra: responder assertivamente sem que a imagem de excelência profissional que a acompanha seja colocada em causa. 

Durante um almoço de negócios, perguntam-lhe diretamente:

 “É associada sénior há tantos anos. Quando chega a sócia? Não é ambiciosa?”

  1. Creio que esse assunto terá de ficar para outra ocasião.

É a minha primeira sugestão de resposta quando, simplesmente, não pretendemos responder. As nossas decisões pessoais, a escolha do nosso caminho profissional e familiar são temas que apenas a cada um respeitam. Se não pretende partilhar o “porquê” da sua opção — nem tecer qualquer comentário sobre o assunto — indique, elegantemente, que abordará esse assunto noutra ocasião.

Como segundo exemplo prático, partilho consigo outra situação que, provavelmente, também já vivenciou.

Ainda se recorda daquele evento corporativo no qual foi confrontada, num tom de voz bem audível a que nenhum dos presentes ficou indiferente, com a seguinte pergunta:

Maria, adoro (e pense naquele adorooooooo com o “o” bem prolongado) a sua carteira. Deve ter sido caríssima! Quanto custou?

É esse mesmo! A situação clássica em que alguém lhe pergunta, diretamente, quanto custou o seu vestido, a sua carteira, os seus sapatos ou a sua jóia preferida.  Para estas situações, apresento-lhe a minha segunda sugestão de resposta!

  1. É preferível não dizer…”, acompanhada de um sorriso nos lábios que não permitirá descortinar a sua resposta.

Por incrível que possa parecer, a sua carteira com um ar sofisticadíssimo custou nada mais, nada menos, que uma verdadeira “pechinca”! Apaixonou-se por ela numa lojinha de rua num passeio durante a pausa de almoço. O ar de requinte encheu-lhe as medidas: tinha de a trazer consigo aumentado a sua “generosa” coleção! Contudo, o ar sofisticado não corresponde ao valor. Para quê desmistificar uma peça especial para si? 

A título de confidência, partilho consigo que esta é a minha resposta preferida. Com um sorriso nos lábios — e um ar de boa disposição particularmente vincado — demonstramos, claramente, que não vamos responder. E, novamente, com um ponto extra: deixamos no ar e ao critério — ou imaginação — do interlocutor a solução: será que foi uma “pechincha” e não quer partilhar o valor? Ou, pelo contrário, falará de um montante proibitivo que jamais poderá partilhar?

Como referi inicialmente, recordo-lhe que sempre que a resposta a uma pergunta envolve um número, a pergunta está vedada… mas nem todos se recordam deste pequeno detalhe e, como tal, não podia deixar de lhe apresentar a minha sugestão de resposta. 

Por fim, apresento-lhe uma última sugestão de resposta para que, perante aquela pergunta especialmente inoportuna e despropositada, possa responder sem perder a elegância. 

Imagine a clássica ocasião em que alguém, à mesa da refeição ou no intervalo de uma reunião, lhe pergunta:

Está casada há 10 anos e tem uma carreira brilhante. Como é que ainda não tem filhos? Não consegue engravidar?”

  1. Porque pergunta?” Sendo a resposta menos empática e que demonstra, claramente, que o interlocutor ultrapassou a sua linha vermelha, deve estar reservada para situações em que pretende vincar, claramente, que não responderá, que ficou desconfortável com a questão e que foi muito indelicada e inoportuna a abordagem do interlocutor. 

Quando a pergunta for particularmente inoportuna, devolva a pergunta ao interlocutor questionando-lhe a razão de ser — e o particular interesse — nesse assunto.

Está, agora, na posse de três opções fantásticas que lhe permitirão responder, em qualquer ocasião, mantendo a sua imagem de excelência. O palco é seu!

Artigo publicado, originalmente, na Executiva aqui.

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