Com a quadra natalícia à porta, é tempo de resolver o dilema que assombra muitos profissionais. Afinal, qual é a expressão correta em Portugal: “Feliz Natal” ou “Boas Festas”?
Num ambiente de respeito por todas as culturas e crenças, é fundamental que todos sejamos conhecedores do significado destas expressões – tal como outras expressões culturais com pendor religioso – e como deverão ser aplicadas no contexto português.
O fenómeno religioso tem-se manifestado, ao longo dos tempos, não só na história cultural de vários países, mas também na sua história política.
Portugal é um país laico que se pauta pela liberdade religiosa, tolerância e respeito por todas as culturas e confissões. Tal não determina, contudo, o desconhecimento do facto religioso enquanto facto social e do impacto que o catolicismo tem na cultura portuguesa. O Estado não é – nem deve estar – alheio aos valores da nossa sociedade. O Estado deve ser um veículo que permita o desenvolvimento livre das consciências (católicas ou ateias).
Ser um Estado laico – um Estado neutral que acolhe e respeita todas as confissões – não implica ignorar ou inverter o nosso património cultural; não implica que as confissões religiosas devam ser relegadas para a esfera privada. Como bem nos relembra Jorge Miranda, um Estado laico não deve ser confundido com laicismo determinando a desconfiança ou repúdio da religião como expressão comunitária. Portugal reconhece este espírito de absoluta separação, o papel da religião e dos diversos cultos na nossa cultura. Repudiar a religião enquanto expressão comunitária colocaria em causa o próprio princípio da laicidade.
Em Portugal, tal como noutros países de matriz cristã, é correto desejar “Feliz Natal” ou “Um Santo Natal” entre o dia 8 de dezembro e o dia 25 de dezembro. “Natal” significa nascimento; é o nascimento de Jesus Cristo – um acontecimento de cariz religioso – que celebramos nesta quadra festiva impactando a vida social e profissional de crentes e não crentes. Todos, sem exceção, beneficiam dos feriados nacionais de cariz religioso.
Entre o dia 26 de dezembro e o dia 6 de janeiro, deverá desejar “Boas Festas e Bom ano” ou, se preferir, apenas “Bom Ano”. Tendo em conta que a celebração do nascimento de Jesus Cristo, stricto sensu, já foi celebrada, não é apropriado continuar a desejar “Feliz Natal”.
Depois do dia 6 de janeiro, deverá apenas desejar “Bom Ano” e agradecer os votos de Boas Festas.
E o que devemos desejar quando não temos a certeza se o destinatário da nossa mensagem de Boas Festas é cristão? Feliz Natal? Boas Festas?
Quando em Roma… Sê Romano!
E, como tal, em Portugal desejamos “Feliz Natal” a todos os que se cruzem connosco nesta quadra festiva (reforço, entre o dia 8 de dezembro e o dia 25 de dezembro).
E se, pelo contrário, tivermos a certeza que o outro não é cristão?
Bem, nesse caso, teremos um dilema. Contudo, pergunto-lhe: será que ofende o outro desejando-lhe “Feliz Natal”? Creio que uma resposta positiva implicará a adoção de uma posição extremista.
Quando desejamos “Feliz Natal” a alguém, o mais importante é o sentimento que está subjacente a esta expressão. Trata-se de um gesto de boa vontade, de paz, de gentileza e, como tal, só poderá ser desejado algo bom. Ofender alguém porque, de coração, desejamos genuinamente o melhor parece-me desconsiderar a genuinidade e simpatia dos votos transmitidos.
Pense de outra forma: ficará ofendido se, a 12 de fevereiro, lhe desejarem um “Feliz Ano
Chinês”? Ou, a 12 de abril, um “Feliz Ramadão”?
Pessoalmente, fico enternecida com o gesto e receberei, com todo o gosto, os votos que me são dirigidos.
Abolir a expressão “Feliz Natal” em Portugal implicaria que todos aqueles que professam uma fé diferente tivessem de fazer exatamente o mesmo. Seria, sem dúvida, uma tremenda perda! Ser inclusivo – e estarmos cientes da diversidade religiosa e da riqueza que cada cultura espelha – é demonstrar respeito, interesse e, acima de tudo, compreender a nossa sociedade multicultural.
Como tal, sinta-se confortável quando desejar “Um Feliz Natal” ou “Um Santo Natal”.
Contudo, se preferir desejar “Boas Festas” durante toda a quadra festiva, saiba que não comete um pecado capital.
Artigo publicado na Link to Leaders aqui.