Nas aulas de etiqueta à mesa que leciono, na ótica da hotelaria de luxo, surge, invariavelmente, o mesmo comentário pela voz de vários alunos:
“Joana, é cada vez mais difícil servir (bem) os clientes! A maioria dos clientes desconhece, de todo, o código silencioso dos talheres. Colocam os talheres “como bem lhes apetece” o que implica que tenhamos de perguntar, diretamente, se já terminaram. Esta abordagem, invariavelmente, garante um olhar fulminante indicando-nos que “estamos a incomodar com tal pergunta “tonta”.
Numa perspetiva de serviço público, tenho publicado nos últimos anos, no meu Instagram, vários vídeos e publicações com imagens, de acesso livre e gratuito, para relembrar, ao grande público, as noções elementares de saber estar à mesa.
Hoje relembro, também aqui, como devemos colocar, corretamente, os talheres indicando, silenciosamente, qual o estado da nossa refeição: em descanso vs terminada.
Por sua vez, gostava de alertar para o facto circularem, na internet, várias imagens sobre o código silencioso dos talheres completamente incorretas: “mitos urbanos”, ou melhor, digitais, que quase se transformam em “verdades”, não fosse o olhar atento dos especialistas que cá estão para “colocar ordem na casa”.
Na maioria dos países europeus, no qual Portugal se inclui, sinalizamos que terminámos a refeição colocando o garfo e a faca paralelos, na posição 4h20 (imaginando o prato como se fosse um relógio). O garfo permanece com os dentes virados para cima; a faca permanece com a parte cortante virada para dentro.
Em França, encontramos uma ‘nuance’: o garfo deverá ser colocado com os dentes virados para baixo, pois assim foi colocado na mesa, aquando da mise en place. Contudo, a posição 4h20 mantém-se.
O Reino Unido opta, também nesta matéria, por ter regras diferentes dos seus congéneres europeus (relembro-lhe que até as regras de condução são opostas). Assim, sinalizam que terminaram a refeição colocando os talheres paralelos mas na posição 6h30. Tal como sucede em Portugal, o garfo permanece com os dentes virados para cima.
Quando pretendemos sinalizar que ainda não terminámos (quando estamos a conversar ou, simplesmente, a mastigar), colocamos o garfo e a faca em posição de “v invertido” (o garfo com os dentes para baixo e a faca com a parte cortante virada para dentro). Recordo-lhe que os cabos dos talheres jamais tocam na mesa (não há lugar aos famosos “remos do barquinho”).
Nos E.U.A., a posição de “descanso” é diferente quando adotam o método “zig-zag” — também denominado “método da preguiça”, que determina que a faca apenas seja utilizada para cortar os alimentos necessários e, de seguida, coloca-se em descanso, na parte superior do prato; o garfo, alterna da mão esquerda para a mão direita e é seguro como se de um lápis se tratasse). Nesse caso, em descanso, o garfo é colocado na posição 4h20, com os dentes virados para cima; a faca já permanece colocada, em “eterno descanso”, na parte superior do prato, com a parte cortante virada para dentro.
Agora que já se recorda do código silencioso dos talheres, o que me diz de colaborar com a equipa de restauração que está a servir colocando os talheres de forma correta de acordo com a informação que desejar transmitir?